segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O resto?? O resto, já não interessa.

Um dia António Quadros escreveu/disse: “Não queremos ser uma fábrica de diplomas”.
Podia acabar por aqui a minha intervenção, parece-me.

O meu nome é Maria Ana Ferro. Sou filha de António Ferro, neta de António Quadros e estudei no IADE.

Em pequena vivi confusa. Para mim IADE era sinónimo de trabalho. Aliás, e apesar de a minha mãe trabalhar numa área totalmente diferente, dizíamos o “IADE do pai” e o “IADE da mãe”, achando que era a palavra utilizada para definir emprego.
O IADE cresceu em nós. Lembro-me de ver o meu avô numa sala pequenina do Palácio e de me sentar ao seu colo e pedir miminhos, o que por um lado o encavacava e por outro o encantava.

Estudei no IADE. 5 anos em vez de 4, porque chumbei logo no primeiro devido ao meu jeitinho para matemáticas.

Enquanto lá estive, ouvi de tudo. Mal dos cursos, mal dos horários, mal dos professores, mal dos alunos, mal dos equipamentos, das salas, do bar, das casas-de-banho, do programa, das faltas, dos pagamentos.

Mas, havia sempre um mas. O espírito que o IADE respirava chegava até nós. Isso, porque o espírito pertencia a duas pessoas que o fizeram crescer, António Ferro e António Quadros e a tantas outras que o cultivaram. O Professor Fernando Garcia, a Paula Naia, Pilar Roquette, Mafaldas, tanta gente. Tanta gente.

Esse espírito, cresceu em mim e o IADE deixou de ser o trabalho do meu pai. Era de facto um projecto, uma vontade, um sonho, uma meta.

Nunca mais lá voltei desde que o meu pai saiu. Porque aquilo é hoje apenas o edifício onde um dia foi o IADE. Agora é outra coisa, despida desse espírito. Vestida de preto. De estrangeirismos, de palavras que estão na moda e valores que aparentemente também.

Para mim, ficou uma recordação de quase 30 anos. Desde que nasci até ao momento em que o meu pai desceu aquele elevador pela última vez. Hoje, respeito muito o projecto que o meu avô e pai conseguiram criar apoiados nos valores que ainda hoje acreditamos, restam as recordações e o orgulho de uma escola para os alunos, feita por pessoas.

O resto, é sustentado por valores que não chegam a entristecer-nos pois não os compreendemos.
Foi feito o que deveria ter sido feito. O contributo para o ensino foi dado, o espírito foi semeado e continua.
Pelo menos por quem o viveu.

O resto, já não interessa.

“Não somos números, não somos coisas descartáveis e substituíveis, não somos apenas funcionários, apenas profissionais, somos infinitamente mais porque somos seres humanos.”

António Quadros

Sem comentários:

Enviar um comentário